terça-feira, 10 de novembro de 2015

Educação financeira infantil - A saga do cofrinho


Qual será a idade certa de começar a introduzir aos nossos filhos o conceito do "quem guarda sempre tem"? Eu acho que eu sempre fui uma pessoa mão fechada, pão dura, murrinha, por isso esse assunto é um pouco delicado pra mim. Pera, deixa eu me descomplicar um pouquinho... Eu só sou um pouco controlada demais... desde sempre. Lembro que, quando pequena, eu e meus primos ganhávamos um envelope com um dinheirinho da minha avó todo natal. Eu geralmente guardava o envelope até saber direitinho o que queria comprar. Minha mãe conta que uma vez já tinha se passado quase 1 ano do acontecimento, quando eu disse pra ela que queria um patins, E minha mãe falou pra mim: "mas filha, agora eu e seu pai não temos o dinheiro". E eu com a carinha cheia de triunfo disse: "mas eu tenho!! Tenho o dinheiro que a vovó me deu!" Essa economia me rendeu meu primeiro patins de não-bebê. Sem ninguém me ensinar, e até brigarem comigo por causa disso, eu costumava guardar cada centavo. Inclusive o dinheiro que ganhava pra comer no intervalo na cantina da escola. Mas sempre tinha um foco... comprar o presente de dia das mães, uma roupa ou um brinquedo, ir pro cinema com as amigas.
Cresci e a coisa não mudou... economizei um ano de dois trabalhos pra pagar casamento, economia depois pra comprar enxoval de Lucy e por aí vai. Tá certo que nem sempre sobra pra guardar as pratinhas, mas que vale a pena vale! Por causa dessa murrinhagem, eu ganhei o cargo de administradora do dindim lá de casa. Eu controlo (pra desespero do marido) o que entra na carteira e o que sai dela.
Esse ano, Lulu ganhou um cofrinho... Um usadinho em formato de casinha, acho que a vó comprou num brechó. Quando vi, meus olhos brilharam! Achei uma oportunidade e tanto pra Lucy começar a entender o valor de certas coisas. Sei que ela não está nem perto de entender na prática a diferença entre uma coisa barata e uma cara, mas ela poderia sentir o gosto de comprar algo que ela quisesse muito, com o próprio esforcinho dela. Sentei com minha pequena e expliquei pra quê servia a casinha. Disse que se ela guardasse todas as moedinhas que ela ganhasse, ela ia poder comprar um brinquedo, ela mesma, não a mamãe. E por incrível que pareça, com dois anos e meio, ela ficou super empolgada com a notícia e começou a procurar moedinhas. Pedia pra gente, pro vovô, quando recebíamos troco de qualquer coisa. E a gente dava uma forcinha, claro. qualquer moedinha que sobrava engordava o cofrinho dela. Já estávamos a uns três meses nessa novela, quando eu comecei a prestar atenção no que ela queria.
Já tinha um tempão que Lucy vinha namorando umas princesinhas da Disney que trocam o vestido. Sempre que colocávamos videos no youtube pra ela assistir, isso era tudo que ela queria ver. Um dia, ela foi na casa de uma amiguinha, e lá estavam elas. A bichinha ficou apaixonada. Meu coração não aguentou e no dia das crianças ela ganhou três. Quase morreu de alegria! "Tlês mamãe, tlês princesas!!!" Achei que o assunto tava resolvido, mas não... Agora ela via os videos e falava - mamãe, faltam essa, essa e essa. Vi que tinha chegado a hora de abrir o cofrinho. Contei as moedinhas e deram R$ 46,00. Chamei Lulu, mostrei pra ela o quanto ela tinha conseguido juntar e disse que naquele dia, a gente ia na loja comprar uma princesa com o dinheiro dela! Meu Deus, pensa numa criaturinha estática! Abriu um olhão: "EU vou comprar, EU??" Tiramos até foto do acontecimento: 

Chegando na loja, ela foi correndo pras princesas, e já pegou logo duas... expliquei que com o que ela tinha juntado, dava pra comprar só uma. Ela tinha que continuar economizando pra comprar as outras. Ela entendeu, escolheu a que gostava mais e me deu. Coloquei Lulu no colo, dei o cofrinho na mão dela, e fui pro caixa, Na vez dela, eu expliquei pra vendedora que estava ensinando a filhota a poupar, que ELA ia pagar pelo brinquedo dela. A vendedora fez uma festa só, pegou o cofrinho e perguntou: "Você vai comprar a sua boneca?" E ela com um sorriso cheio de orgulho disse: "Sim, e é uma princesa!"
A vendedora levou anos pra contar todas as benditas moedas, e foi ótimo o jeito como ela entrou no jogo. Quando Lucy recebeu a sacolinha na mão, ela não se cabia de felicidade. Saiu da loja realizada, dever cumprido! E eu mais ainda, porque acho que consegui passar meu recado pra cabecinha dela. Prova disso é que agora toda vez que o priminho diz que quer algum brinquedo, Lucy vem perguntar: "Pietro, você tá juntando suas moedinhas?" Pequenas sementinhas que valem pra vida inteira. Virou costume, o cofrinho não fica mais vazio. Pietro também entrou na onda, pede moedinhas pro vovô agora o tempo todo. 
Não queremos no mundo pessoinhas murrinhas como eu, mas criar crianças conscientes do valor das coisas e ensiná-las a se esforçar desde cedo para alcançar seus próprios desejos é um bem que fazemos não só pra elas, mas para os papais e para sociedade como um todo! Portanto, lição cofrinho: Recomendo! Dato, assino e carimbo! Ver minha filha passando do, "eu quero", pro "mamãe, temos dinheiro pra comprar?" e entendendo quando a mamãe diz que não, já é uma baita etapa vencida pra mim! O cofrinho foi o meu passaporte pra essa transição. E você? Qual vai ser o seu jeito criativo de ensinar seu pequeno a poupar?? Conta pra gente!
Beijos mamães!

Michelle Vargas