quinta-feira, 31 de março de 2016

Bilinguismo Infantil


Quem já ouviu a frase que diz que o cérebro da criança é como uma esponja? Será mesmo que absorve tudo?  Deixa eu te contar uma coisa. Apesar de essa afirmação ter um sentido quase literal, ela é também uma meia verdade. Vou te explicar porque.
Literal porque, no início da vida, nosso cérebro contém uma plasticidade maior. Isso nos diz que na primeira infância, o ser humano está mais aberto a captar inúmeras novas informações, e a ser influenciado por interações e ambientes. Com o passar dos anos, o ser humano se especializa em funções mais complexas, tendo seu maior sucesso em áreas específicas. Então, a história do cérebro ser uma esponjinha não caracteriza que temos super-criaturinhas nos braços, que podem entender o segredo do universo antes da gente. É o simples fato de que as atividades que devem ser aprendidas naturalmente, como a linguagem, têm uma chance muito maior de retorno, do que aquelas que precisamos usar nossa intelectualidade para entender (Uffa).
Então vamulá pro blablablá científico.
Você sabia que no primeiro ano de vida, o bebê reconhece e responde a sons distintos em qualquer idioma? É a partir dos dois anos de idade que seu cérebro começa a diferenciar a sua língua nativa das outras. Em 2013, cientistas britânicos e americanos descobriram que existe uma janela crítica de formação no cérebro, entre os dois e os quatro anos, para aperfeiçoamento da linguagem. Justamente o período em que nossos pequenos estão tomando uma coragem maior pra abrir a boca e falar, depois de tanto ouvir, ouvir e ouvir a gente grande tagarelando. Este estudo mostra que uma substância, a Mielina, responsável por proteger o circuito neural, se desenvolve desde o nascimento, mas é fixada a partir dos 4 anos de idade. Sugere-se então, que nos primeiros anos de vida o cérebro seja mais plástico. A questão é: os pesquisadores descobriram que essa mielina tem uma influência mais forte sobre a capacidade de desenvolvimento linguístico antes dos 4 anos. 
Mas ok, vai que você é daqueles que não se convencem pela ciência. Vamos olhar as coisas pelo lado prático agora? 
Digamos que seu filho não precise aprender outro idioma ainda bebê. Por inúmeras razões, é comprovado que a criança aprende sim, mais rápido e com mais consistência do que um adulto. Vamos listar algumas. 
Sabe-se que, a partir dos 12 ou 13 anos de idade, existe algo chamado "lateralização" do cérebro. É aquilo sobre o lado esquerdo do cérebro ser mais adaptado para exatas, o lado lógico, e o lado direito ser o lado criativo, mais sensível a humanas, música, artes e etc. Conforme o cérebro ganha maturidade, a partir da puberdade, as funções com que o indivíduo tem maior habilidade vão começar a se desenvolver muito mais rápido do que outras. Quando crianças, todas estas funções ainda estão interligadas, sendo que uma criança não vai se destacar melhor no aprendizado de línguas do que o seu vizinho. Todas mostram a mesma capacidade. Por isso, a partir da adolescência, começa o discurso: queria aprender inglês, mas eu detesto! Isso não é uma desculpa pra não aprender. Essa pessoa simplesmente adquiriu uma dificuldade com o passar do tempo, gerando assim uma resistência.
Outra questão é que as crianças produzem fonemas diferenciados sem maiores problemas, enquanto os adultos lutam para conseguir pronunciar qualquer sonorização que não é parte de sua lingua materna (veja um adulto aprendendo a pronuncia o TH da lingua inglesa, e você vai entender o que eu digo). Se o seu filho tem dois ou três anos, peça pra ele inventar nomes para bichos ou pessoas. Os nomes são hilários, com fonemas e conjunções de letras que podem pertencer a qualquer parte do mundo. Eles conseguem fazer qualquer som, enquanto nós estamos acostumados à métrica de palavras da nossa própria gramática.
Agora, uma das coisas mais importantes ao meu ver, é que a criança simplesmente não tem medo de errar. Ela assimila as informações de maneira muito natural e assim se arrisca sem olhar pros lados. Agora, a partir da adolescência, quando começamos a entender as estruturas, analisamos primeiro se está certo o que estamos falando. E Deus me livre, de alguém me ouvir falando igual ao Tarzan. 
Poderia fazer uma lista quilométrica, mas vamos resumir em apenas mais alguns fatores psicológicos. Conforme crescemos, somos acometidos por alguns sintomas bemmmm chatos: 
Ansiedade - "Hoje é meu primeiro dia no cursinho... Ai meu Deus, será que eu vou conseguir??" 
Pressa - "Então professora, eu nunca fiz inglês, mas eu tenho uma viagem marcada pro final do ano, e eu preciso estar falando até lá! Podemos ter aulas só de conversação??" 
Prequiça - "Tenho que revisar meu vocabulário... humm, só vou fazer um lanchinho antes! Hummm, só vou assistir à novela antes... Hummm, só vou levar meu peixe pra passear antes! 
Desmotivação - "Pra que eu vou aprender essa língua, se eu nunca vou usar isso no meu trabalho?"
Falta de confiança - "Nem, isso não é pra mim! Já basta a &*#@$$ do verbo To Be na escola".
Presunção - "Você levou 4 anos pra aprender uma língua? Não vale a pena! Por isso só vou aprender quando puder fazer um intercâmbio."
Auto-consciência - "Oh, lá vem um gringo, vai dar pra eu treinar!! Espera... nessa pergunta eu coloco o auxiliar antes ou depois do sujeito mesmo?"
E por aí vai... Pergunta: você já ouviu alguma criança falando qualquer coisa parecida com isso? Nãããão!! Elas escutam, escutam, e um dia, sem mais nem menos, PÁ!! Falaram! 
Agora, pra finalizar, deixa eu contar um pouco da minha experiência. Por um lado, eu sou professora de inglês. Pelo outro, eu sou mãe de uma gostosura de 3 anos. Quem acompanha o blog, sabe que quando tive Lucy larguei meu antigo emprego, abri meu cnpj e hoje estou correndo pra cima e pra baixo dando minhas aulas. Quando embarriguei de Lucy, eu jurava pra mim mesma que ia me comunicar com ela ao máximo em inglês, porque já acompanhei de perto casos em que o pai era de uma nacionalidade, a mãe de outra, e a criança cresceu sabendo as duas línguas. Se deu certo?? Nãããão!! Eu sou uma pessoa com 0,5% de disciplina pra executar tarefas que não sejam completamente necessárias. Então pra mim era muito difícil estar falando com meu marido em português, virar pra minha filha, apertar a tecla SAP, e simples assim mudar o nosso mundo! Por outro lado, a maioria dos meus alunos sempre foram adultos e adolescentes. Só tinha havido um caso em que eu tinha ensinado uma criança de 4 anos, mas foi por um tempo bem curto. Já tinha perdido as esperanças, quando uma coisa aconteceu. Com dois aninhos, quando Lucy já estava falando muitas coisas, eu comecei a falar uma palavrinha e outra com ela em inglês. E ela demonstrou um interesse tão grande que eu me motivei. Comecei a ensinar números, cores, animais, partes do corpo etc, etc. Até aí normal, nada que eu já não tivesse feito com meus alunos. Mas sabe o que não foi normal pra mim? Ver que uma palavrinha que eu tinha ensinado a uma semana atrás, continuava gravada na cabecinha dela, com a pronúncia perfeita, e sem eu ter que repetir. A capacidade de memorização e pronúncia era incrível! Daí, nós mamães, começamos a achar que nossos filhos são super dotados né? Mas daí aconteceu outra coisa. Comecei a ensinar palavrinhas pro meu sobrinho também, da mesma idade da Lucy. E BUM! A mesma coisa! Os dois começaram a competir pra ver quem sabia mais palavras. Bom, talvez meu sobrinho também fosse super dotado, era coisa de família! Mas daí, veio outra pra acabar com meu ceticismo! 
Com três anos, esse ano, Lucy entrou pra escolinha. Coloquei em uma escolinha bilíngue, porque aconteceu de ter uma do ladinho da minha casa, e a escolinha era linda e super organizada! O bilinguismo foi o ponto final por decidir colocá-la lá. Mas daí, uma semana antes de começarem as aulas, a diretora me liga, dizendo que eles estavam a procura de uma professora, pois uma tinha saído de última hora, e lembraram que eu dava aulas. Assim, comecei a ensinar na escolinha da minha filha, pra turminha de 1 ano. Quando eu soube que meus alunos teriam 1 aninho, meu primeiro pensamento foi que eu seria mais uma cuidadora em si, do que uma professora. De que adianta passar um período inteiro falando em inglês com eles? Se eles não falam nem português direito, eles vão entender inglês? Que engano! No primeiro dia de aula, eu estava contando uma historinha sobre uma maçã em inglês, quando um fofuchinho apontou pra maça e falou: Apple! Morri! Fiquei sem fala na hora. Aquele menininho não sabia falar Maçã ainda. Mas ele falou Apple. Com um espaço de tempo bem curto, eles estavam entendendo diversos comandos em inglês, cores e muitas outras coisinhas. Até cantar musiquinhas! 
Pronto! Isso me convenceu! Minha filha não era super dotada (bom, talvez ela seja). A questão é que, quando se trata de línguas, todos os pequenininhos têm um dote maior que nós. 
Hoje eu passo uma grande quantidade de vídeos, músicas e joguinhos em inglês pra Lucy, e já conseguimos ter mini conversinhas. Outro dia no shopping, um casal ficou olhando desconfiado pra nós duas, talvez pensando se éramos mesmo daqui kkkk. Minha motivação é que se continuar nesse rítmo, talvez com uns 5 ou 6 anos eu tenha uma criança com um ótimo nível de inglês em casa, podendo assim focar em outra língua, para que ela não tenha que absorver tanta informação em uma lapada só. Queremos filhotes inteligentes, mas não sobrecarregados! Cada coisa no tempinho deles. respeitando o limite de cada um.
E então, tá esperando o quê pra começar a expandir o mundinho do seu pequeno? Afinal, o futuro deles depende do que começamos a plantar a partir de agora!


Kisses!!

Michelle