quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Papai do céu...


Sou filha de pais pastores e cresci em igreja protestante. Por sorte, ou graças a Deus, meus pais nunca foram fanáticos, e mesmo que nossas idéias muitas vezes divergissem, eles sempre me permitiram andar meus próprios caminhos e me deram a opção de experimentar o que fosse necessário, desde que fosse saudável. Por causa dessa atitude deles sempre tive muito clara a ideia do amor de Deus, e nunca tive que sobreviver com a religião sendo um peso sobre os meus ombros. 
Hoje, com meus trinta anos percebo que nunca deixei os ensinamentos que tive quando criança de lado, mas algumas coisas mudaram sim dentro de mim. Como por exemplo o próprio conceito da religião. Com o tempo percebi o quanto a religião pode deixar de ser um guia, para se tornar um divisor entre as pessoas. A religião por si só tem tornado boas pessoas em pessoas preconceituosas, donas da verdade e melhores do que outros. De repente, apenas alguns têm direito a um acesso a Deus e a um ticket de entrada nos portões do céu. E de repente percebi que larguei a minha etiqueta escrita "evangélica" lá atrás, e troquei inconscientemente por uma com um nome mais bonito, mais simples: Cristã. É, eu sou cristã. Essa é uma verdade profunda e enraizada em mim. Mas ainda isso não me faz melhor do que outros. Isso é quem eu sou, e outras pessoas têm direito às suas próprias heranças, suas próprias escolhas. Uma das coisas em que acredito mais do que tudo, é que o coração de Deus é incompreensível para nós. Isso remete ao fato de que Deus não pensa como nós. Não é preconceituoso como nós. Isso mostra que Deus conhece nosso vizinho por dentro, enquanto nós nos preocupamos em julgar seu comportamento e suas crenças, colocando-o na balança com o que nós achamos que é o certo. A gente vê a cara. Deus vê o passado, os traumas, as desilusões, o porquê de tudo. Sabe o que é verdade ou mentira e vê o potencial das coisas se encaixarem.
Na minha adolescência eu resolvi que gostaria de me graduar em Relações Internacionais. O motivo? Queria trabalhar com o social, queria ajudar as pessoas. Queria trabalhar com terceiro setor, voluntariado, mulheres e crianças carentes. Queria viajar pela Onu, trabalhar com refugiados em países em guerra. Nem preciso dizer que fui me desiludindo enquanto crescia. As coisas não eram tão simples. A faculdade se encarregou de me mostrar a teoria disso, e a vida me jogou na cara que sem dinheiro e suporte você não sobrevive com uma causa humanitária. Afinal de contas você tem sua casa pra sustentar e suas próprias batalhas pra enfrentar. Mas o importante neste período da minha vida é que eu descobri quem eu sou. Descobri que a única prova do amor de Deus na vida de uma pessoa, é quando essa pessoa começa a sentir amor pelo seu próximo, pelo menos afortunado. Você começa a sentir o que incomoda o coração de Deus, e quer de alguma maneira fazer a diferença, trazer um pouquinho do céu pra cá!
Mas porque falar sobre isso em um blog materno? 
Quando estava grávida da Lucy pensava em como passaria questões sobre Deus pra ela. Não frequentava igreja (o que não me deixava mais longe de Deus) e pensava sobre qual seria a maneira certa de apresentá-la ao Papai do Céu. Pensei que a melhor maneira dela aprender na prática este amor era fazê-la andar junto com outras crianças mais necessitadas que ela, pra que ela pudesse amar essas crianças, querer brincar de roda junto com elas e crescer sem pré julgamentos, com um amor natural. Lembro como ontem, fechava os olhos e imaginava Lucy sentadinha na mesa pintando com outras crianças em nossa ong (meu sonho), conversando, como se não existisse nada mais normal. Ter esse amor de Deus espelhado na vida dela, no seu dia a dia. Pra mim, essa seria uma igreja perfeita. Uma escola da vida e do céu perfeita pra ela. 
Nossa ong ainda está no papel. Infindáveis projetos que ainda estão por acontecer, que ainda vão acontecer. Enquanto isso, ensinamos em casa. Ensinamos o amor e o carinho, em como nenhuma criança deve ser menosprezada ou tratada mal. Ensinamos a tratar os cachorrinhos com amor também, sem puxar seus pelinhos. Ensinamos o amor a qualquer forma de vida. E ela tem aprendido. Cuida de crianças e bichinhos com um carinho excepcional! Claro que com alguns deslizes de criança, não temos uma pequena Buda em casa. O junto com o amor aos outros está ficando mais fácil dela entender que ela tem outro Papai, além desse papai de casa, um que está escondidinho lá no céu, que tem o amor maior do mundo por ela, e que cuida de todos os seus passinhos. Que cuida de seus sonhos. Que não deixa ela ficar com fome, Que olha por suas amiguinhas. 
A oração pro Papai do céu a noite tem virado um costume. Não a obrigamos. Se ela diz que não quer orar hoje, ela não precisa. Mas muitas vezes, ela lembra antes da gente. Às vezes mamãe e papai oram, e ela repete. Às vezes ela ora, e nós repetimos. Às vezes nós começamos, mas da metade pro final ela se encarrega e toma conta das palavras. E que oração é mais doce do que uma oração de criança? Ela não aprendeu a pedir as coisas pra Deus ainda. E isso faz tudo ficar mais gostoso, porque 80% do discurso inteiro é: abençoa mamãe, papai, vovó, vovô, meu irmãozinho Pietro, tio junior, tia Bia, tio Digo, vovó Betinha, cacá, Fefê, Gigi, todas as minhas amigas, os cachorrinhos, os golfinhos, a Peppa, e toooodo mundo. Amém! A criança ora pelos outros. Só depois que crescemos ficamos auto centrados. O Eu, eu, eu, sempre vem na frente!
Bom demais também é a confusão:

 - vamo orar filha, repete com a mamãe: Papai do céu...
 - Não mamãe, é Papai Noel, não é Papai do céu!
 - É o Papai do céu Lu, papai noel é aquele outro gorduchinho.
 - Ah o de chapéu vermelho?? Mamãe eu vou querer de natal uma boneca e uma princesa..

Ou então

 - Papai do céu, manda seus anjinhos pra guardar o soninho da Lucy hoje a noite...
 - Não mamãe, eu não quero os anjinhos no meu quarto a noite, eu vou assustar! 

E por aí vai. Gosto de pensar que estamos colocando a sementinha, um fundamento... mas o desenrolar e a história dela com o seu Papai do céu, é ela mesma quem vai escrever! Esperamos que seja como a Lucy de Nárnia, sem medo de abraçar e cheirar a juba de Aslam, com toda a intimidade que só mesmo uma criança pode imaginar que tem. Nisso ela nos ensina. A inocência dela e o desapego dela nos ensina. Sem religião, sem entender bulhufas de evangélico, espírita, ou católico, mas com amor nos olhos. O que basta pra Lucy amar outra criança, é essa criança estender a mão e levá-la pra brincar. Amor simples e verdadeiro. É um amor que reflete Deus.

Beijos pessoal!

Michelle Vargas 



2 comentários:

  1. Que coisa mais linda mi! Que Deus abençoe mto vc e sua família hj e sempre! Amo! Um bju

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  2. Que coisa mais linda mi! Que Deus abençoe mto vc e sua família hj e sempre! Amo! Um bju

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